A TARDIA RESPONSABILIDADE CIVIL NA DISCRIMINAÇÃO ALGORÍTMICA E A REGULAÇÃO ESTATAL PARA SISTEMAS DE GOVERNANÇA E COMPLIANCE

Claudine Costa Smolenaars, Thaís Leal Vieira Gonçalves

Resumo


Os sistemas algoritmos estão cada vez mais presentes e interferem na vida das pessoas. O problema de pesquisa é a capacidade danosa dos sistemas algoritmos, em larga escala e sem fronteiras, especialmente quando produzem ou incentivam a discriminação, sem a respectiva reparação. A hipótese é de que a responsabilidade civil não é eficiente para gerar incentivos para impedir o dano, tampouco repará-lo adequadamente. Como objetivo geral, vai se demonstrar que é necessário, além da regulação estatal, efetiva exigência de estruturas de governança e compliance, com transparência, administração de riscos e prestação de contas quanto à configuração algorítmica e seus critérios. Como objetivos específicos, vai se tratar sobre os algoritmos, conceituando-os para compreender a sua formação e destacar a legislação existente; vai se analisar o problema, considerando os impactos na realidade; por fim, vai trabalhar na hipótese de governança e transparência como ferramenta para o compliance no uso de algoritmos. A metodologia é indutiva, fazendo-se revisão bibliográfica, buscando debater sobre ocorrências reais eventualmente relatadas pela mídia. O marco teórico é a Análise Econômica do Direito. Os achados revelam que o Estado já vem reagindo à discriminação algorítmica, estabelecendo exigências legais e aplicando multas milionárias às grandes corporações, mas demanda cooperação das autoridades de dados de todo o mundo, bem como das empresas no âmbito de sistemas de inovação.

Palavras-chave


Sistemas de algoritmos; responsabilidade civil; LGPD; Governança corporativa; Regulação estatal

Referências


AGCO CORPORATION. Programa de Implantação de Privacidade de Dados. Stoneleigh, Inglaterra. Dezembro, 2019.

BALKIN, Jack M. The three laws of robotics in the age of Big Data. Ohio State Law Journal, Columbus, v. 78, p. 1-45, ago. 2017. http://ssrn.com/abstract=2890965. Acesso em: 30 out. 2020.

BARBOSA, Mafalda Miranda. Inteligência artificial, e-persons e direito: desafios e perspectivas. Revista Jurídica Luso-Brasileira, Lisboa, ano 3, n. 6, p. 1475-1503, 2017, p. 1501-1502.

BATTESINI, Eugênio. Direito e Economia. Novos Horizontes no estudo da responsabilidade civil no Brasil. São Paulo: LTr, 2011.

BRASIL. Lei n. 13.709, de 14 de agosto de 2018. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Brasília: DOU, 2018.

BIONI, Bruno Ricardo; LUCIANO, Maria. O princípio da precaução na regulação da Inteligência Artificial: seriam as leis de proteção de dados o seu portal de entrada? In: FRAZÃO, Ana; MULHOLLAND, Caitlin (Coords.). Inteligência Artificial e direito: ética, regulação e responsabilidade. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 215-216.

CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Tradução de Maria Luiza X. A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. ______. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: Economia, sociedade e cultura. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 2012.

CAZARINI, Edson Walmir et al. Uma nova arquitetura de sistema de apoio à decisão. Anais do XXI ENEGEP (Encontro Nacional de Engenharia de Produção). Salvador: Enegep, 2018. Disponível em: https://abepro.org.br/biblioteca/enegep2001_tr92_0964.pdf. Acesso em: 22/06/2022

COASE, Ronald. The Firm, the Market and the Law. Chigago: The University of Chicago Press, 1988.

COLOMBO, Cristiano; FACCHINI NETO, Eugênio. Decisões Automatizadas em matéria de Perfis e Riscos Algorítmicos: diálogos entre Brasil e Europa Acerca dos Direitos das Vítimas de Dano Digital. In: GODINHO, Adriano Marteleto et al. Responsabilidade civil e novas tecnologias. Indaiatuba: Editora Foco, 2020.

COLOMBO, Cristiano. Mineração de dados e análise preditiva: reflexões sobre possíveis violações ao direito de privacidade na sociedade da informação e critérios para sua adequada implementação à luz do ordenamento brasileiro. Rev. de Direito, Governança e Novas Tecnologias| e-ISSN: 2526-0049| Maranhão | v. 3 | n. 2 | p. 59 - 80 | Jul/Dez. 2017.

COLOMBO, Cristiano. “Corpo Eletronico como vítima em matéria de tratatamento de dados pessoais: responsabilidade civil por danos à luz da lei de proteção de dados brasileira e dano estético no mundo digital. Direito, Governança e Novas Tecnologias. Florianópolis: CONPEDI, 2018. p. 63-83

DIAS, José Carlos Vaz et al. Novos Horizontes Negociais nas Plataformas Digitais: A concorrência Desleal sob a Prática do Geo-Blockin e Geo-Princing. Rio de Janeiro: Quaestio Iuris, 2020. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/347884797_Novos_horizontes_negociais_nas_plataformas_digitais_baseados_em_a_concorrencia_desleal_sob_a_pratica_do_geo-blocking_e_geo-pricing. Acesso em: 23/06/2022.

DODGSON, Mark. Collaboration and Innovation Management. Oxford Handbooks Online Collaboration. Inglaterra: Oxford University Press, 2014. p. 1–14. DOI: 10.1093/oxfordhb/9780199694945.013.003

FALEIROS JÚNIOR, José Luiz. Discriminação por algoritmos de inteligência artificial: a responsabilidade civil, os vieses e o exemplo das tecnologias baseadas em luminância. In: Revista de Direito da Responsabilidade. Lisboa: Gestlegal, 2020. P. 1007-1043. Disponível em: https://revistadireitoresponsabilidade.pt/2020/discriminacao-por-algoritmos-de-inteligencia-artificial-a-responsabilidade-civil-os-vieses-e-o-exemplo-das-tecnologias-baseadas-em-luminancia-jose-luiz-de-moura-faleiros-junior/. Acesso em: 12/07/2022

FIANE, Ronaldo. Cooperação e Conflito: instituições e desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

GREEN, Ben; CHEN, Yiling. The Principles and Limits of Algorithm-in-the-Loop Decision Making. Proceedings Of The Acm On Human-Computer Interaction, [S.L.], v. 3, n. , p. 1-24, 7 nov. 2019. Association for Computing Machinery (ACM). http://dx.doi.org/10.1145/3359152.

GUERRA, Sergio. Discricionariedade, regulação e reflexividade: uma nova teoria sobre as escolhas administrativas. 5. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

Hill, v. 70, n. 4, p. 1231-1287, 1992.

KAHNEMAN, Daniel. Rápido e Devagar. São Paulo: Objetiva, 2011.

KAHNEMAN, Daniel. Ruído. Uma falha no julgamento humano. Rio de Janeiro: Objetiva, 2021.

KÖCHLING, Alina; WEHNER, Marius Claus. Discriminated by an algorithm: a systematic review of discrimination and fairness by algorithmic decision-making in the context of HR recruitment and HR development. Business Research. 2020, Vol. 13 Issue 3, p795-848. 54p. DOI: 10.1007/s40685-020-00134-w.

LEITE, Douglas. O papel do estado regulador diante do advento das inovações tecnológicas disruptivas. In: GUERRA, Sergio (org.). Teoria do Estado Regulador. volume IV. Curitiba: Juruá, 2020. p. 63-86.

NORTH, Douglas C. Institutions. The Journal Of Economics Perspectives, Nashville, v. 5, n. 1, p. 97-113, jan. 1991. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/1942704. Acesso em: 14 dez. 2021.

OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Novo Perfil da Regulação Estatal: administração pública de resultados e análise de impacto regulatório. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

ROSENVALD, Nelson. As funções da responsabilidade civil: a reparação e a pena civil. São Paulo: Atlas, 2013, p. 77. 67 PAGALLO, Ugo. The laws of robots: Crimes, contracts,

SALAMA, Bruno Meyerhof. Direito e Economia. Textos Escolhidos. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 9-57.

SILVA, Gabriela Buarque Pereira; EHRHARDT JÚNIOR, Marcos. Pessoa e sujeito de direito: reflexões sobre a proposta europeia de personalidade jurídica eletrônica. Revista Brasileira de Direito Civil, Belo Horizonte, v. 23, n. 01, p. 57-59, mar. 2020. Instituto Brasileiro de Direito Civil - IBDCivil. http://dx.doi.org/10.33242/rbdc.2020.01.003.

STEINBERG, R. M. et al. Gerenciamento de Riscos Corporativos – Estrutura Integrada. Jersey City: COSO, 2017. Acesso em 18 de novembro de 2021, disponível em https://www.coso.org/documents/coso-erm-executive-summary-portuguese.pdf

SUNSTEIN, Cass. Behavioral Economics, Consumption, and Environmental Protection. USA: SSRN Electronic Journal, 2011. https://doi.org/10.2139/ssrn.2296015. p. 1–29

TAROUCO, Hiury Hakim; GRAEML, Alexandre Reis. Governança de tecnologia da informação: um panorama da adoção de modelos de melhores práticas por empresas usuárias. Revista de Administração, [S.L.], p. 07-18, 28 mar. 2011. Business Department, School of Economics, Business & Accounting USP. http://dx.doi.org/10.5700/rausp0994.


Texto completo: PDF

Apontamentos

  • Não há apontamentos.


Licença Creative Commons
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 .

Rev. Fac. Dir. - ISSN: 0103-2496 (impresso) / 2317-2940 (eletrônico)

Rua Meton de Alencar, s/n - Centro - Fortaleza - CE 
CEP 60035-160 - Fone: +55 (85) 3366 7834

Bases de dados